HJ: Será a poesia um espaço de debate ou um processo de falhas contínuas e invisíveis?
HS: É tudo isto. A poesia é uma construção humana que nos remete no domínio da antropologia cultural. As culturas não são estáticas. Na poesia vive-se o conflito dialéctico entre as diferentes gerações, a aceitação ou assimilação, a recusa e etc. As falhas nunca são invisíveis. O ego do poeta é que vende quimeras e leva-o a crer que atingiu a perfeição, até um judas chegar e repor a verdade. A tua pergunta é a resposta à questão por que, dentre vários textos ou obras, destacar um, dois, três, quatro, cinco poemas ou obra?
HJ: Centro dos palcos do mundo, a mulher é evidência mesmo quando oculta. Como ela é na literatura angolana.
HS: A mulher, vista pelos poetas de sexo masculino, continua a ser um objecto estético e ser tematizada sob diferentes prismas: erotismo, hipersexualização, fenómeno zungueira, mãe, causadora de traumas etc. Do lado das próprias mulheres, estando em voga o feminismo, a atitude é, como é óbvio e muitas vezes justa, de reivindicação social, emancipação e outros assuntos atinentes. Por outro lado, essa hipersexualização da mulher a que criticamos de forma implícita ao nos dirigirmos aos homens, é reforçada pela própria mulher, principalmente no discurso spoken word.
HJ: Diz-se que quem escreve vive uma infância perpétua; gêmeos: Moçambique e Angola. Olha semelhanças nas suas escritas?
HS: Algumas apenas. O que é normal, atendendo a distância e a dificuldade de circulação de livros. De moçambique conheço a poesia de Amosse Mucavele, Hirondina Joshua, Jaime Munguambe, Norek-Red d’Esperança. Sinto que a poesia surrealista, metafísica vai unindo alguns poetas. Mas cada um vai assumindo um tipo de poesia de acordo com o contexto, apesar de quase similar.
O colonialismo logrou-nos uma língua que nos obriga a sermos solidários no contexto geopolítico global, ao ponto de lembrar uma relação entre irmãos; a nossa Literatura.
A nossa historiografia literária se configura como uma rede de influências que se remontam desde os escritores nacionalistas como Agostinho Neto, Alda Lara, José Craveirinha e Noémia de Sousa; e actualmente Mia Couto e Agualusa. Luandino Vieira e Mia Couto partilham os neologismos de Guimarães Rosa.
Há uma boa relação entre escritores da nova geração de Angola e Moçambique.
HJ: É jovem, poeta e crítico literário. Que anseia para a nova poesia angolana?
HS: Futuro risonho. Conheço os autores de perto, na sua maioria. Está a crescer qualitativamente porque as pessoas estão a descobrir que já mais escreverão bons poemas se não lerem.
Obrigado em nome de todos os jovens angolanos e por essa relação. Para nós vocês têm servido de exemplos.