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“Já recebi castigos que não vou aqui relatar por escrever sobre alguns autores”

HÉLDER SIMBAD

É professor, crítico literário e escritor e procura no seu quotidiano usar o máximo desta prática. Disse que apesar de sofrer represálias por ter “criticado” determinadas pessoas, vai continuar no mesmo caminho. Quanto aos artistas, quanto mais independentes, melhor.

Como avalia o actual estado da literatura nacional?

Anteriormente eu respondia a esta questão de forma positiva. Hoje, com outras leituras, diria que está como não mereceria estar e não me vou alongar na resposta porque as respostas às outras perguntas também servem de aferição do actual estado da nossa literatura.

E em que lugar encontramos a literatura oral num mundo tão digital?

A literatura oral encontra-se naquele lugar onde a superstrutura que rege as políticas culturais coloca. Por exemplo, as construções musicais endógenas e a medicina tradicional: no folclore, pressupondo, segundo o nosso olhar, um lugar de atraso, maquiado geralmente com expressões eufemísticas do tipo “tradicional e cultural”. Em termos práticos, a literatura oral resiste vernaculamente nas zonas rurais e em famílias urbanas conservadoras com proveniência nesses lugares, onde a ancestralidade africana sobrevive através da memória (geralmente em língua portuguesa).

Mas há sempre uma luz no fundo do túnel?

Felizmente, o movimento “Spoken Word” configura também esse lugar tido como moderno no qual as literaturas orais são exercitadas através de uma arte performativa. Institucionalmente, a academia tem procurado ser aquele espaço de sobrevivência das literaturas orais através dos cursos de Literaturas Africanas. ISCED, Faculdade de Humanidades e Piaget são as instituições, pelo que sei, nas quais o plano curricular contempla essa matéria, favorecendo a sua sobrevivência.

Que papel joga, então o mundo digital?

A provocação que me coloca, ao se referir ao mundo digital como um obstáculo, eu vejo como uma falsa questão, porquanto há mais vantagens até para o processo de expansão dessa cultura e é a fórmula mágica de o mundo conhecer, fora da imprensa convencional , as virtualidades artísticas dos povos angolanos. Considero Literatura Oral o conjunto de narrativas orais, provérbios, desenhos (sonas, textos de panelas, esteiras, etc), cânticos , danças teatralizadas, entre outras, um vasto repertório cultural deixado pelos nossos antepassados, que sobrevive sobretudo por via dos povos não aculturados e pela acção de académicos comprometidos com os saberes e artes endógenas.

Tem estado a dar mais atenção em qual facetas: professor, crítico literário ou escritor?

Doo-me à literatura em quase tudo o que faço. Quando nas vestes de professor procuro ensinar Literatura com paixão, sem pensar no que me vão pagar. A condição de escritor e de crítico dá-me a possibilidade de ministrar aulas diferenciadas em que consigo captar didacticamente o espírito das turmas em que passo e ensinar aos estudantes como a literatura, apesar de configurar um universo ficcional, ajuda a compreender o mundo material. Viver a literatura é o que me tem permitido viver a vida e sobreviver às adversidades.

E qual é a a escolhida?

Sinceramente, não consigo dizer com precisão em que faceta dou mais atenção. Quando escrevo, vivo; quando dou aulas vivo; quando faço crítica vivo e sei que estou a contribuir com alguma coisa. Os três caminham juntos, indissociáveis. Neste momento da entrevista, estou na província do Huambo a ministrar cursos de Teoria da Literatura e Crítica Literária e um curso de Escrita Criativa: estamos cá os três, embora o professor seja o mais realçado.

(Leia o artigo integral na edição 662 do Expansão, de sexta-feira, dia 18 de Fevereiro de 2022, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba  mais aqui

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