(Tipos de Tradução)
On Linguistic Aspects Of Translation é um dos mais importantes trabalhos no domínio da tradução, produzido pelo linguista russo Roman Jakobson, no qual reúne um conjunto de postulações doutrinárias sobre os aspectos linguísticos da tradução.
Roman Jakobson começa a sua abordagem citando Bertrand Russell[1], para quem ninguém podia compreender a palavra cheese (queijo), a menos que esta pessoa tivesse um conhecimento não-linguístico de tallexema. Colocando a ênfase nos aspectos linguísticos dos problemas tradicionais da Filosofia, na linha dos fundamentos de Russell, postula que ninguém pode entender a palavra cheese a menos que esta pessoa conheça o significado atribuído a essa palavra no código lexical do inglês.
Segundo Jakobson, qualquer representante de uma cultura culinária sem queijo entenderá a palavra em inglês cheese se ele estiver ciente de que nessa língua significa alimento obtido pela coagulação do leite. Sobre esse aspecto, entrámos em contacto com alguns falantes nativos de línguas angolanas de origem bantu (Kimbundu e Ibinda), procurando saber o significado de queijo nessas línguas e o resultado foi o espectável: não há. Isto ocorre porque as palavras existem para nomear alguma coisa e, no entanto, nas nossas diversas culturas gastronómicas, pelo que verificámos, não há produção de queijo. O mesmo não se pode dizer do resto de África, porquanto, segundo Iskander (2010), em 3100 A.C., em Saqqara, Egipto, na sepultura do rei Hor-Aha, foram descobertos dois recipientes de cerâmica. Em cada um deles figuravam hieróglifos correspondentes à palavra seret, cujo sentido era ignorado e, depois de uma análise química, descobriu-se que os dois vasos continham queijo; concluiu‑se então que seret significava queijo. Em português, a moderna palavra queijo surgiu por intermédio do espanhol queso, do ano 980, documentado em português sob a forma queso em 1188[2].
Roman Jakobson, a partir dessa perspectiva, centrando a sua análise para além da palavra cheese, em apple, nectar, acquaintance, but, mere, conclui que todas as palavras ou frases que tenham uma natureza linguística se constituem como factos semióticos[3].
[1] “No one can understand the word ‘cheese’ unless he has a nonlinguistic acquaintance with cheese.”
[1] https://pt.wikipedia.org/wiki/Queijo
[1] The meaning of the words “cheese,” “apple,” “nectar,” “acquaintance, “”but,” “mere, “and of any word or phrase whatsoever is, definitely a linguistic- or to be more precise and less narrow- a
Porém convém realçar que, em nosso entendimento, para se ser palavra ou para se constituírem em frase, estas, por si só, encerram já esta natureza. Além disso, uma palavra por si só, só se constitui como facto semiótico se ela for plena em significado e capaz de formar uma frase, pois, em termos morfológicos, existem diferentes unidades de significação, dentre as quais, impõe-se que pensemos em, morfemas[1]e lexemas[2]. Por mais reduzido que seja um morfema, ainda assim é capaz, de, em termos lexicográficos, explicar o conteúdo semântico de um lexema, logo, tem sempre uma natureza linguística que, no entanto, não se constitui como facto semiótico, pois, o facto semiótico, de acordo com Camocardi e Flory (2003, p.134) “apresenta-se como um texto, no sentido de fala completa, ou seja, enquanto o facto linguístico termina na frase, o facto semiótico é transfrasal e verifica-se em qualquer linguagem: pictórica, televisiva, etc”. Na verdade, ainda na sequência dessas autoras relativamente a tridimensionalidade do facto semiótico, o facto linguístico se verifica na primeira dimensão do facto semiótico, pois, este encerra três dimensões: a sintáctica (relação dos signos entre si, independente do conteúdo),a semântica (relação do signo e o referente) e a pragmática (relação entre signo e seus intérpretes).
Roman Jakobson[3], dizendo-se nas vestes de linguista e como mero usuário comum da língua, declara, referindo-se provavelmente à tradução intralingue, que o significado de qualquer signo linguístico é a sua tradução para um outro signo alternativo. No entanto, sabemos que existem signos que em termos de vocabulários são únicos, sendo apenas possível a sua conceituação e geralmente, no âmbito da tradução interlingue, por exemplo, aparecem na língua portuguesa como empréstimos, sendo, portanto, lidos e grafados do mesmo jeito com que foram concebidos.
O Linguista Russo distingue três maneiras de interpretar um sinal verbal, pois, na sua visão, ele pode ser traduzido em outros sinais do mesmo idioma, em outro idioma
[1]Em morfologia, um morfema (gramatical) é um monema dependente, isto é, o fragmento mínimo capaz de expressar significado ou a menor unidade significativa que se pode identificar. [1] É um constituinte morfológico. Dicionário Terminológico para consulta em linha. Ministério da Educação e Ciência de Portugal. Consultado em 17 de Fevereiro de 2014. Arquivado do original em 27 de Julho de 2009.
[2] Em lexicologia estrutural, lexema é a “unidade mínima distintiva do sistema semântico de uma língua que reúne todas as flexões de uma mesma palavra.”Em termos simplificados, é a parte de uma palavra que constitui uma unidade mínima dotada de significado lexical. Dicionárioeletrónico de TermosLinguísticos.
[3] For us, both as linguists and as ordinary word-users, the meaning of any linguistic sign is its translation into some further, alternative sign.
semiotic fact.
[1]Em morfologia, um morfema (gramatical) é um monema dependente, isto é, o fragmento mínimo capaz de expressar significado ou a menor unidade significativa que se pode identificar. [1] É um constituinte morfológico. Dicionário Terminológico para consulta em linha. Ministério da Educação e Ciência de Portugal. Consultado em 17 de Fevereiro de 2014. Arquivado do original em 27 de Julho de 2009.
[1] Em lexicologia estrutural, lexema é a “unidade mínima distintiva do sistema semântico de uma língua que reúne todas as flexões de uma mesma palavra.”Em termos simplificados, é a parte de uma palavra que constitui uma unidade mínima dotada de significado lexical. Dicionárioeletrónico de TermosLinguísticos.
[1] For us, both as linguists and as ordinary word-users, the meaning of any linguistic sign is its translation into some further, alternative sign.
ou ainda em outro sistema não-verbal de símbolos. Esses três tipos de tradução, segundo Roman Jakobson, devem ser rotulados de forma diferente:
1) Tradução intralingue ou reformulação (rewording): é a interpretação de signos verbais por meio de outros signos da mesma língua.
2) Tradução interlingue ou tradução em seu sentido comum: consiste na interpretação de sinais verbais por meio de outra língua.
3) Tradução intersemiótica ou transmutação é a interpretação de signos verbais por meio de sistemas de signos não-verbais.
Nos termos do estruturalista russo, a tradução intralingue de uma palavra dá-se por via da sinonímia, no entanto, adverte que, por vezes, pode não haver equivalência completa e toma como exemplo Every celibate is a bachelor, but not every bachelor is a celibate. Na verdade, celibate (celibatário) e bachelor (solteiro) revelam um mesmo estado. Em certa medida são sinónimos. No entanto, ontologicamente cada uma das palavras veicula um estado ou ideias diferentes. O celibatário é um estado que se dá através de um vínculo religioso, transformando metaforicamente humanos em noivas de cristo; ao passo que o estar solteiro como tal refere-se a um estado civil que pode ser temporário e mudar por via de um vínculo civil ou religioso denominado casamento.
Para o autor, a nível da tradução interlingue, normalmente não existe nenhuma equivalência completa entre as unidades de código, enquanto as mensagens podem servir como interpretações adequadas de unidades ou mensagens de códigos estranhos.
O principal problema da linguagem e a preocupação central da linguística, para Roman Jakobson, é a questão central equivalência na diferença, devendo o linguista actuar como intérprete diante de qualquer mensagem verbal. Nenhuma amostra linguística, adverte Roman Jakobson (1959, p.234), “pode ser interpretada pela ciência da linguagem sem uma tradução dos signos em outros signos do mesmo sistema ou em signos de outro sistema”.
Roman Jakobson, reconhecendo a complexidade da prática e da teoria da tradução, investe uma dura crítica contra o mito do dogma da intradutibilidade:
Both the practice and the theory of translation abound with intricacies, and from time to time attempts are made to sever the Gordian knot by proclaiming the dogma of untranslatability. “Mr Everyman, the natural logician,” vividly imagined by B. L. Whorf, is
supposed to have arrived at the following bit of reasoning: “Facts are unlike to speakers whose language background provides for unlike formulation of them.”(p.234)
Segundo Roman Jakobson (1959, p.234), “a faculdade de falar um determinado idioma implica uma faculdade de falar sobre esse idioma”[1]. Esse postulado transforma qualquer indivíduo pertencente a determinada comunidade linguística em Gramático, Linguista e etc. Fala sobre determinada língua quem tiver formação em Linguística ou a domina do ponto de vista gramatical.
Para o teórico do Formalismo Russo, na poesia, as equações verbais tornam-se um princípio construtivo do texto.
[1] A faculty of speaking a given language implies a faculty of talking about this language.
Categorias sintáticas e morfológicas, raízes e afixos, fonemas e seus componentes (características distintivas) – em resumo, qualquer constituinte do código verbal – são confrontados, justapostos, trazidos numa relação contígua de acordo com o princípio da similaridade e contraste e carregam sua própria significação autônoma. Fonêmico a semelhança é sentida como relacionamento semântico. (Jakobson,1959, p.238)
Segundo Jakobson (1959), o trocadilho, ou usar um termo mais erudito e talvez mais preciso – paronomasia, reina sobre a arte poética, e se seu governo é absoluto ou limitado, a poesia por definição é intraduzível. Somente a transposição criativa é possível: transposição intralingual – de uma forma poética para outra, transposição interlingual – de um idioma para outro, ou finalmente transposição intersemiótica – de um sistema de sinais para noutro, por exemplo, da arte verbal à música, dança, cinema ou pintura.
- Carmocardi, E.M e Flory,S.F.V(2003).Estratégias de persuasão em textos jornalísticos, publicitários e literários. Arte e CiÊncia Editora.São Paulo.
- Iskander Z. (2010). Tradução de palavras antigas desconhecidas. Em História geral da África, I: Metodologia e pré-história da África / editado por Joseph Ki‑Zerbo. – 2.ed. rev. – Brasília: UNESCO.
- Jakobson, R. (1959). On linguistic aspects of translation. In R. Brower (ed.), On translation, 232–239. Cambridge, MA: Harvard University Press.
[1] A faculty of speaking a given language implies a faculty of talking about this language.