«Enviesada Rosa, Poesia Erótica Africana» é uma obra do escritor angolano Hélder Simbad, nascido em 1987, na província de Cabinda, de pseudónimo: Ybinda Kayambu. O poemário, composto por 39 poemas e vencedor do aclamado Prémio Literário António Jacinto, visa exaltar a pátria angolana, a mátria África, a mulher africana e, em particular, a mulher angolana.
O título chama-nos já à atenção, pois há nele a expressão “Poesia Erótica Africana” que, se for descodificada imediatamente, levará o alocutário a pensar logo em magia ou no sexo propriamente dito.
Em nosso entender, baseando-nos em outras visões, uma poesia erótica é aquela em que o poeta envolve nela um estado de paixão amoroso, sexualidade. Nos dizeres do Dicionário Electrônico Houaiss da Língua Portuguesa 2.0a (2007), a palavra «erotismo» deriva do item lexical francês «érotisme», que tem o significado de “desejo amoroso”. À luz dos nossos pensamentos, cremos que o poeta da Enviesada Rosa, ao decidir colocar a expressão “Poesia Erótica Africana” no título da sua obra, tinha a pretensão de explanar que o seu poemário teria como pano de fundo: a admiração que o mesmo tem à sua pátria e às mulheres angolanas e, em geral, às africanas.
No poemário, é exaltada a pátria angolana, senão mesmo a mátria África, a terra que tem visto os filhos que andaram no seu útero durante anos a se lhe negarem, a se lhe abandonarem para tomar residência nos outros continentes, onde há mais segurança, paz, tranquilidade, enfim, onde há melhores condições de vida. Atentemos: «Meu oxigénio/ Meu ganho/ Minha paz/ MinhÁfrica/ Acidental/É minha/É nossa/Enviesada rosa/Não parto para Pasárgada /A terra é esta/Não sou amigo de rei/Aqui sofro aqui rio/Aqui rio de loucos afluentes.»
Esta é uma apreciação informal e empírica, pelo que as afirmações aqui expostas e as reflexões feitas são de carácter livre e fundamentadas apenas na intuição da leitora.
Qualquer semelhança com uma resenha ou uma crítica literária, no sentido académico do conceito, é mera coincidência.
Matamba, cidade de sonho. Neste espaço imaginado tudo faz sentido e não existem impossíveis. Saltei propositadamente o prefácio, numa primeira leitura, para depois voltar a ele, já com as chaves na mão para abrir as portas da narrativa. O prefácio (de uma solidez inquestionável, neste caso) é uma janela larga, à entrada ou à saída da obra. Podemos, no entanto, subverter as intenções de quem o assina e do autor do livro em apreço. Sendo um pequeno texto sintético e objetivo, pode conter informação que nos induz numa determinada direção, a qual pretendemos, para já, evitar. Porquê? É uma novela infanto-juvenil e por isso acreditamos que a maioria dos leitores vai direta ao texto central e queremos sentir como sente esse leitor que fomos um dia. Ler e vibrar com os olhos de quem apenas começa a viver, ainda longe de consolidar opiniões sobre experiências passadas.
Em tempos, um grande autor de referência para a maioria de nós escreveu Rayuela (O Jogo do Mundo) —literalmente: o jogo da macaca — um romance que se multiplica dentro de si mesmo e no qual os capítulos podiam ser lidos por ordens diferentes, segundo a escolha do leitor (que se torna corresponsável pelo texto), gerando-se, desse modo, histórias distintas, um pouco como um casaco exponencialmente reversível.
Era Cortázar, mestre da narrativa e ilusionista das palavras, que se entretinha, aparentemente, a armadilhar os leitores. Hélder Simbad leva-nos a um exercício semelhante, de transgressão e ousadia, de rutura com a ordem tradicional do mundo, se não por recomendação explícita aos leitores, através de pequenos apontamentos irónicos e pinceladas de humor, como aguarelas vivas. Encontramos esses ardis logo no disclaimer inicial (sobremaneira original!), que intitula sobriamente “Nota do autor”. Nele, Simbad alerta-nos para a promiscuidade e a interação inevitáveis entre ficção e realidade e implica o leitor na classificação e interpretação individual dos módulos narrativos (capítulos e parágrafos) que compõem o texto. Estaremos perante uma realidade ficcionada ou uma ficção carregada de verosimilhança, com suporte de jornalismo de investigação? Quem já viveu um bocado e leu outro tanto sabe que, entre marcadores geográficos e históricos, aqui nos encontraremos. Nestas páginas o real maravilhoso brinca com o realismo mágico, tropeça no surrealismo e voa sem amarras, desvinculando-se de quaisquer escolas ou correntes estéticas.
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