Pedro Manaça é um dos jovens intelectuais que procuram estar na linha de frente desta geração, contribuindo nos domínios da revisão literária, formação em Língua Portuguesa e Oratória, já com algumas publicações no seu percurso. Agora, nas vestes de diácono, líder de jovens, pregador e ministro de louvor, presenteia-nos com este livro.
Trinta Dias Interagindo com o Criador reúne trinta devocionais de forte pendor pedagógico, escritos por Pedro Manaça, que demonstram a sua relação com o Criador ao longo de trinta dias. O termo “devocional” deriva de “devoção”, que significa apego sincero e fervoroso a Deus. Assim, trata-se de um período de tempo que o homem se separa para investir em assuntos espirituais, em contacto com o divino.
Este livro é, portanto, um conjunto de reflexões sociais experienciadas espiritualmente pelo autor, como bem sublinha Ester Dihahoa no prefácio da obra ao referir que “o século XXI, mais do que os outros, é o da correria, ansiedade, imediatismo, frustração, depressão e diversos novos males que a cada dia se instalam nas mais diferentes realidades sociais” (p.9). É em resposta a este cenário que Manaça decide externalizar a sua experiência com Deus ao longo de um mês, não como um coaching de auto-ajuda, mas como uma proposta teocêntrica, recordando ao leitor que o homem é dependente de Deus. Diferencia-se, assim, das abordagens antropocêntricas do coaching, que proclamam que o homem, por si só, pode tudo desde que aceda a fórmulas secretas ou métodos de sucesso rápido.

Por tudo isso, e pelo conteúdo da obra, que sem fazer apologia explícita ao sofrimento o assume como realidade presente nas entrelinhas, faz-se necessário convocar a Teologia do Sofrimento para uma leitura global de Trinta Dias Interagindo com o Criador. Entre os títulos encontrados neste devocional, destacam-se:
- Não mate nem se mate. No momento certo, todos morremos. Afinal, ninguém é eterno (1º dia)
- As dificuldades são importantes para o nosso amadurecimento (2º dia)
- Deus, obrigado pela vitória do meu adversário (8º dia)
- Caia e levante-se, chore e enxugue as lágrimas. Fique triste e sorria. Afinal, você é humano e não um projecto encalhado de ferro (21º dia)
“A Teologia do Sofrimento é o campo teológico que busca compreender o significado e o propósito do sofrimento na vida humana, especialmente no contexto cristão. Entende-se que o sofrimento, muitas vezes, é um meio de crescimento espiritual e de aproximação a Deus, servindo ao propósito divino e não sendo apenas um obstáculo ou uma punição”.
No Velho Testamento, vemos um povo eleito que, após a queda, vive numa oscilação entre desobedecer e retornar a Deus, sofrendo as consequências do Seu juízo. No Novo Testamento, o sofrimento é também um aspecto central da vida do Deus-Filho, que assume os pecados da humanidade, mostrando que o sofrimento de Cristo teve um propósito, como muitas vezes o tem o nosso. O próprio Cristo afirma em João 16:33:
“Tenho-vos dito estas coisas, para que em mim tenhais paz. No mundo tereis tribulações; mas tende bom ânimo, eu venci o mundo.”

Infelizmente, o sofrimento tem sido utilizado por muitos falsos profetas, pastores e mestres como instrumento de extorsão. Em Angola, há uma urgência em ensinar a Teologia do Sofrimento, pois a sua incompreensão faz com que muitos cristãos questionem o sacrifício de Jesus na cruz. Parte dessa teologia pode ser encontrada nos conselhos práticos e bíblicos de Trinta Dias Interagindo com o Criador.
Reconhecemos que o sofrimento faz parte do propósito de Deus, mas isso não significa aceitar uma vida inteira de dor, uma vez que também existem outras vontades e forças em acção. Como aconselha Jesus em Mateus 6:34, não devemos viver ansiosos pelo amanhã, pois “basta a cada dia o seu próprio mal”. Cada devocional deste livro trata de um assunto específico, com princípios estéticos que dão identidade a cada texto, geralmente iniciados com uma passagem bíblica e desenvolvidos em forma de jogral ou reflexão, conforme a inspiração do momento entre o homem e Deus.
Em tempos de intensa apostasia, entre escândalos e ataques à Igreja de Cristo, guardar a fé tornou-se uma tarefa hercúlea. O cristianismo angolano carece não apenas de apologistas preocupados em combater heresias internas, mas também de defensores contra o relativismo religioso que, sob um pan-africanismo tardio, substitui Deus pelas culturas humanas e introduz práticas heréticas nas igrejas em nome de agradar ao mundo. Não há meio-termo: Deus é Deus, ponto final. Se admitimos “outras verdades”, que sentido há em permanecer na fé?
Pedro Manaça adverte:
“Enquanto cristãos, temos certeza de que a melhor vida para se viver é a vida cristã. Deus pega uma vida vazia, sem rumo, guiada por julgamentos errôneos, e a transforma numa vida plena nEle.” (p.20)
Diante das confusões, idolatrias, heresias, escândalos financeiros e do sofrimento, torna-se urgente uma palavra que traga os apóstatas de volta à fé. Sigamos o conselho de Pedro Manaça:
“Independentemente da situação pela qual passa, não abandone a sua fé em Deus.” (3º dia)
Este é o convite deste livro: um chamado ao reencontro com o Criador, em trinta dias de diálogo diário, reflexão, amadurecimento e devoção, para que possamos, com bom ânimo, vencer as aflições do mundo, firmados na fé em Cristo.
Paz do Senhor