“O Kuduro é produto da nossa cultura nacional. Quem nega isso confude gostos pessoais com conceitos”.
Podemos falar de Rap Gospel? Podemos falar de Kuduro Gospel? Sem rodeios, respondo categoricamente: sim. E, como cristão descendente do protestantismo, repito o que já foi dito, reconhecendo que existe conhecimento que pode fundamentar-se fora dos cinco solas (Sola Scriptura¹, Sola Fide², Sola Gratia³, Solus Christus⁴, Soli Deo Gloria⁵): “não podemos transformar nossas experiências individuais em doutrina.”

Por conseguinte, pensemos no “gosto” como um privilégio que actua na ordem da subjectividade. Posso detestar algo sem que o objecto do meu ódio seja, de facto, mau.
Creio que já passou um ano desde que o amigo Isidro Fortunato afirmou que o “Kuduro” não é cultura, pensamento que gerou muitas objecções. Lembro-me de ter lido textos de defesa vindos até de pessoas do círculo religioso, que entendiam o Kuduro como cultura.
Estranhamente, hoje, alguns que antes se apresentaram como defensores do estilo dizem, não sei se por revelação divina ou por estudos avançados em preconceitos, que não há possibilidade de Deus receber o Kuduro – agora sem aspas – ou o Rap como louvor. Na mesma linha das objeções ao postulado do Isidro, surgiram singularidades que, mesmo defendendo o Kuduro (e o Rap) como cultura, rejeitam sua presença no universo gospel. Pergunta-se: por que esses estilos não poderiam oferecer louvor a Deus?
No Salmo 47, versículo 7, lemos as condições para cantar louvores: “Cantem louvores com harmonia e arte.” Não há, portanto, uma revelação que consagre um estilo específico como o preferido de Deus, muito provavelmente porque tudo o que façamos para Sua glória é digno.
Alguns questionam a condição harmónica do Kuduro e do Rap, muito por conta de suas origens e da liberdade que esses géneros oferecem em termos de construção textual, sem exigir dos seus cultores critérios rígidos de criação, permitindo maior liberdade na expressão de pensamentos e sentimentos. Contudo, apesar dessa abertura, encontramos os chamados “grandes liricistas” em cada um desses estilos (Russo K, Isis Hembe), muitas vezes superiores, em termos de composição, a cultores de estilos instituídos como “clássicos” pelo Ocidente.
Recentemente, o malogrado de boa memória, Papa Francisco, em uma entrevista, reconheceu a importância da Literatura e das Humanidades na formação dos sacerdotes e na vida dos cristãos, exactamente para nos ajudar a compreender o outro e evitar estereótipos.

No Kuduro e no Rap, encontramos tudo: o bom e o mau. Predomina o mau, porque o mundo “jaz no maligno.” Mas é precisamente neste mundo que a luz brilha.
Prestem culto ao Senhor com alegria;
entrem na sua presença
com cânticos alegres.
Salmos 100:2
Então Miriã, a profetisa, irmã de Arão, pegou um tamborim e todas as mulheres a seguiram, tocando tamborins e dançando. E Miriã lhes respondia, cantando:
“Cantem ao Senhor,
pois triunfou gloriosamente.
Lançou ao mar o cavalo
e o seu cavaleiro”.
Êxodo 15:20-21
Davi e todos os israelitas iam cantando e dançando perante o Senhor, ao som de todo tipo de instrumentos de pinho: harpas, liras, tamborins, chocalhos e címbalos.
2 Samuel 6:5