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Erotismo E Representação Da Mulher Em Enviesada Rosa De Hélder Simbad

Resumo

O presente artigo visa compreender a forma como a Literatura utiliza a sexualidade feminina como instrumento de escrita, analisar as diversas formas que o autor usa para descrever a mulher e o que ela significa para ele. A nossa pesquisa é qualitativa e, em termos de procedimentos, trabalhámos essencialmente com a pesquisa bibliográfica e efetuamos uma entrevista ao autor para colhermos mais informações a respeito da obra.

Palavras chave: Rosa,Mulher,Erotismo,Representaçao ,Enviesada

Abstract

This article aims to understand how Literature uses female sexuality as a writing tool ,to analyze the different ways the author uses to describe women and what this means to him .Our research is qualitative and in terms of producedures we, worked with the autor’s bibliographical research and conducted na interview with the author to collect more information about the work .

Keywards: Skewed ,pink,woman,eroticism,representation

Introdução

O presente trabalho tem como tema Erotismo e representação da mulher em Enviesada Rosa de Helder Simbad e visa abordar a forma como Helder Simbad usa o corpo da mulher como instrumento de escrita erótica, as questões socioculturais em volta ao erotismo e a forma como retrata em versos a sexualidade feminina. Para este fim, Enviesada Rosa, escrita por Helder Simbad, foi escolhida como objeto de análise, porque nos dá representação e caracterização da mulher de uma forma real e ficcional. Partindo deste pressuposto, nosso objetivo é compreender a forma como a escrita de

Simbad representa cada parte do corpo da mulher e os significados que vão ganhando em detrimento dos contextos que são apresentados artisticamente falando e discorridos nos versos da obra, buscando, assim, averiguar a presença ou ausência do erotismo, uma heterogeneidade na representação da arte, em relação ao que geralmente é divulgado e às vezes confundido com o que pode vir a ser pornográfico e disparatístico.

Para se chegar ao objectivo deste estudo, é necessário primeiro apresentar um referencial teórico que servirá de base para a fundamentação da análise. Numa primeira instância, será exprimido a relação entre mulher, o papel da mulher na Literatura. Por isso, recorremos a diferentes autores para expor a temática da construção e projecção das identidades e das representações do erostimo e da mulher nas sociedades. Tendo em vista que a robustez da mulher pode servir de instrumento de inspiração artística actuam como ferramentas de tradução, vamos apresentar as características que conferem a esses meios à função de representação das sociedades.

A escolha do presente tema foca-se no impulso pessoal, porquanto escrevo poesia erótica e procurei um autor contemporâneo que tem a mesma forma de expressão artística que através de suas lentes compreende o papel de Ninfa que as mulheres têm desempenhado e as suaves manifestações artísticas culturais. É, também, de bastante pertinência, para mostrar à sociedade que o poder da mulher não se limita ao seu órgão genital. Com efeito, como pergunta de partida estabelecemos a seguinte: como caracterizar a construção do erotismo constante em “Enviesada Rosa” e como a mulher é representada nela?

Em termos globais, queremos compreender a forma como a Literatura utiliza a sexualidade feminina como instrumento de escrita, analisar as diversas formas que o autor usa para descrever a mulher e o que ela significa para ele. A nossa pesquisa é qualitativa e, em termos de procedimentos, trabalhámos essencialmente com a pesquisa bibliográfica e efectuámos uma entrevista ao autor para colhermos mais informações à respeito da obra.

Quanto à sua estrutura, o arquivo aborda resumidamente os princípios teóricos sobre: o erotismo do ponto de vista teórico poesia erótica, a história da poesia erótica em Angola e a discussão onde se fará uma apresentação resumida do autor e analisaremos a sua obra do ponto de vista técnico e as significações que a mulher toma.

Por fim, as considerações finais, onde apresentaremos em síntese os resultados obtidos, acentuados para a importância de continuar a investigação desenvolvida.

Erostismo

Seja como for, se o erotismo é a atividade sexual do homem, o é na medida em que
ela difere da dos animais. A atividade sexual dos homens não é necessariamente erótica. Ela o é sempre que não for rudimentar, que não for simplesmente animal.(20)

Sobre o livro Enviesado Rosa e sobre o autor

Enviesada Rosa (poesia erótica africana) é uma obra de Hélder Simbad, pseudônimo de Hélder Silvestre André, constituída por 57 páginas, dentre as quais 39 são poemas. Foi publicada em 2017 pelo INIC em celebração ao Prémio Literário António Jacinto, que foi atribuída a mesma. Numa entrevista com o autor, descobrimos que o subtítulo “poesia erótica africana” tinha como objectivo a publicação da obra em Portugal, havendo essa necessidade de deixar explícito que o autor recorre a símbolos africanos para expressar de uma forma erótico/artístico relações afectivas, ou como testemunho para passar mensagens subliminares de intervenção social, portanto o erotismo, na obra, só é usado como uma técnica de escrita como deixaremos mais claro nas próximas páginas do nosso trabalho.

Embora seja um autor jovem, é possível encontrar alguns trabalhos sobre o livro o qual nos servimos como objecto de estudo e de outros do autor. Neste âmbito, de acordo com João Fernando André, crítico literário da nova vaga, no poemário, Enviesada Rosa, é exaltada a pátria angolana, senão mesmo a mátria África, sendo, portanto, uma obra que não se lê, mas sim que se sente. A Luso-Angolana Luísa Fresta, sobre Enviesada Rosa, destaca desde logo uma estética própria que corresponde a uma matriz defendida pelo Movimento Litteragris, do qual faz parte o autor, e que, desde há vários anos, actua no campo das Letras com dinamismo crescente e de maneira diversificada. Em relação ao livro, vamos nos incidir na construção do erotismo e em como a mulher é retratada na obra.

Hélder Simbad é psedónimo de Hélder Silvestre Simba André, natural de Cabinda, nasceu aos 13 de Agosto de 1987. É poeta, professor e crítico literário. Venceu com o livro Enviesado Rosa o Prémio Literário António Jacinto 2017 e tem publicado os livros Insurreição dos Signos no Brasil, Portugal e Angola. Igualmente uma prosa em formato digital, intitulada A Palanca dos Chifres Dourados. Tem livros e artigos

científicos publicados nas áreas da literatura, tradução e filosofia. Integra o corpo de jurado da UCCLA,prémio para novos talentos da lusofonia. É cofundador do Movimento Litteragris e ideólogo do mesmo.

Construção do erotismo em Enviesada Rosa

Para a construção da poesia do livro Enviesada Rosa, o autor recorre essencialmente às seguintes técnicas: a criação de um campo semântico, os trocadilhos e a agristética.

Campo semântico consiste em colocar no texto palavras do mesmo sistema de significação ou conceitos específicos de determinada área. Neste sentido, no texto SAARA, (p.24),o autor recorre a elementos da natureza para erotizar o corpo da mulher. Podemos constatar que há criação de um campo semântico por léxicos presentes no deserto usando como instrumento de escrita para simplesmente sexualizar/erotizar o corpo da mulher:

Navegar a beijos sobre o deserto(corpo) da Sara
enfrentar a eólica erosão
descobrir Oasis
colocando-me na gruta dourada
pirâmide invertida

Nota-se que todas essas palavras em negrito remetem para o deserto de Saara, localizado no Egipto e “erosão eólica “e” Oasis” são fenómenos que se dão exclusivamente no deserto. Embora grafe Sara, sabemos que a coincidência sonora é que terá levado o autor a buscar signos do deserto que alberga as grandes pirâmides egípcias. Por esse motivo, o título do poema é Saara e não Sara. Essa diferença, entretanto, pode indiciar alguma desatenção da parte do autor, se entendermos que este busca sempre a melhor harmonia no acto de construção dos seus textos.

No texto Corpo de argila, (p.25), o autor recorre à mesma técnica para erotizar o corpo da mulher, no entanto, com elementos de simbologia africana. Cá, usa-se toda antiguidade e ancestralidade africana para explicar o corpo ou erotizar o corpo feminino.

Koi-San de caneta carvão
por Tchitundo-Hulo
verso do cancioneiro Kwanyama
aforismo da Filosofia Ibinda
corpo da argila modelada
por um soba da Lunda

No texto a lua nas minhas cabeças, (p.30), o poema onde provavelmente esse conceito de campo é melhor aplicado, o autor recorre à conceitos da Astronomia, ciência que estuda o universo, para associar a um acto sexual em que os devaneios levam-nos a viagens cósmicas conferida pela ilusão do sentir:

Meus olhos cometas
pluniverso
a velocidade da luz
uma cortina de astros desce infinita
contornos lunares

 da cadeira da nuvem
as luas das minhas cabeças
num descendente movimento giratório
no buraco negro
as vias lácteas que escorrem do teu sangue
no texto gestos de guerra (p.30)

Esta técnica, a da criação de campo semântico, persegue o autor em vários poemas, sendo uma das principais em toda a Enviesada Rosa. Dando sequência, parece- nos que a criação poética em Hélder Simbad não encontra barreira linguística. No texto abaixo, o autor usa o disfemismo (uma figura de linguagem que consiste no emprego de expressões ou termos rudes, desagradáveis ou muito diretas no lugar de outra mais leve, branda e neutra), pois o autor usa o conhecimento que tem sobre uma guerra devastadora para explicar o sexo entre duas pessoas e num outro texto sem pensar em como diversas sensibilidades podem encarar o assunto brinca, por exemplo, com o tema da pedofilia, embora queira demonstrar a agressão de quem lidera:

depois do Kuito
Kuanavale sobre montes
de músculos repousas
transcendem o céu de zinco
que precipita episódicos chuviscos p. 32

Pedófila dor
que me viola a infância dàlma
com hermético erotismo
. p. 48

Nos textos das páginas 38, 41,45 e 54, ainda na esteira da noção de campo semântico, o autor usa elementos da cultura judaico-cristã, o que seria profanação nesta

ordem religiosa, para explicar suas experiências sexuais. Nos dois poemas sinalizados abaixo serve-se dos dois primeiros entes do qual o mundo se procriou, de acordo com a cultura judaico-cristã:

animal nascido dEva
e nesse evento me invento Adão                                                             (p.38)

pregou EVAngelho de caricias
e mais um Adão fo(i)deu o mundo                                                           (p.54)

A referida cultura religiosa é construída na oposição entre o bem e o mal. Entretanto, Hélder Simbad não distingue essas duas dimensões morais e santifica o mal, tudo em prol do prazer sexual, evidencaindo o olhar hipnotizador da amada que chama para o acto sugere:

em teus satânicos divinolhos
brotam rosados e espinhosos mistérios
bem se pode dizer não és daqui                                                               (p.41)

Essa tendência de se diluir a fronteira entre as palavras que simbolizam o mal e o bem verifica-se igualmente no poema Pátria Comum:

toda a poesia numa cama acontece
o sexo
a clássica doutrina
mistura celestial
de carne de mel
de canções
de anjos
demônios
astros acesos sobre o céu da cama
a pátria                                                                                                       (p.45)

Uma outra técnica usada pelo poeta está associada aos trocadilhos que levam o autor a criar uma espécie de falta de coesão para encontrar novos sentidos nas palavras. No texto Cocktail africano(pág.26), por exemplo, o autor faz uma associação do maruvo para explicar a relação do vinho,bebida ,com a virilidade e a fertilidade do homem.Também usa o vinho, substantivo, como forma verbal, para exemplificar o trocadilho como técnica de escrita.

ela vinha numa sanga
eu vinho de palmeira
ou de volúpia

Da agristética, Hélder Simbad herda o título no final do poema que, de acordo com o manifesto do Movimento Litteragris sobre poesia, deriva da noção do

automatismo literário, inspirado na estética surrealista. Os agristetistas sugerem que, se são guiados pela intuição e o título é a última coisa a ser pensada, então, este deve ser colocado no final do texto. Outra técnica herdada é a desfixação ou desmembramento, conceitos criado por Mabanza Kambaca e Alfredo Vinela Calala respectivamente, membro do Litteragris, de acordo com Hélder Simbad, para se referir a separação de elementos de uma palavra que criam uma estrutura significativa. Por vezes, nessa separação, acrescentam-se elementos gráficos para conferir o significado pretendido:

Confessa teu crime
sobre gemidos
sobre fálica vibra acção
(p. 52)

destruiu doutrinas
e outros motivos estéticos trouxe eram poéticas
p. 54

Solta teus tigres de sol
e me devora com fé Lina paixão
p.47

Se por um lado separam elementos da palavra para através do som buscarem novas significações ou ampliarem os significados, esse processo de busca de significados dá-se também com as amálgamas, o oposto de desfixação ou desmembramento, onde “kizombandando surrealmente” significa andar dançando o estilo kizomba durante o processo de excitação sexual; ” Ó mundo kwanzapitalista” remete para uma Angola dominada pela moeda nacional onde o dinheiro é o mais importante nas relações amorosas; e “jardins de rosapinhos” revela um sentimento como o amor que causa dor a quem o sente:

num poema natural
kizombandando surrealmente
p. 33

mundo kwanzapitalista
sobre os olhos de São Valentim
a beleza te ofereço
p. 34

Enlouquecer nos jardins de rosapinhos
p. 53

Atraverso
as frias correntes do tempo
p. 48

A crase induzida é outro procedimento da agristética e consiste, segundo informou o autor, na fusão de um vogal terminal com a vogal incial de uma palavra. Como numa crase normal, as vogais devem ser similares, ou seja, a+a,e+e , e por aí fora:

desenterro o ancestral
animal nascido dEva
p.38

os parafusos dàmarga paixão
p. 53

Quem ficar nas páginas desse livro apenas naquilo o que se julga aparente perde muitos aspectos da obra. O erotismo, em Enviesda Rosa, por vezes, é só um pretexto para se tocar em questões sociais. No poema «PATRIÓTICO ORGASMO», por exemplo, Jéssica Pitbul simboliza a perversão na sociedade angolana legitimada e incentivada por políticas enviesadas:

Jéssica Pitbul
é minha
é nossa
enviesada rosa
de fogo e mel
fruto de árvore sangrenta
Efémera promessa é leito oral
p. 56

Para atacar as assimetrias sociais, o poeta em «PÁTRIA COMUM», procura demonstrar que, pelo menos, durante o acto sexual, todos são iguais:

Profetas poetas políticos
religiosos mundanos cidadãos
estendidos e entendidos
se faz sagrado o profano
quando do fogo da rosa inversa
com pétalas de pirilampos
acende-se a luz de todas as pátrias
«PÁTRIA COMUM» p.45

Em «HERMÉTICO EROTISMO», Simbad expõe algo que vai para além do erostimo por conta da violência que usa para descrever a falta que alguém faz que poderá ser um parente ou alguém que amou:

Atraverso
as frias correntes do tempo
cravando com punhal da ausência
um nome nas líricas páginas
da dor.
Pedófia dor
que me viola a infância dàlma
com hermético erotismo
. p. 48

Representação da mulher em Enviesada Rosa

Desde os primórdios do mundo que o papel da mulher não se resume em “satisfação sexual”, pois o seu desempenho vai muito além de orgasmos: mulher é progenitora, auxílio do homem, e, nos últimos tempos têm se destacado em âmbitos políticos,sociais,econômicos e se elevado também em cargos de renome ao redor do mundo.Graças a evolução dos tempos,as mulheres já têm sido permitidas demonstrar que o seu poder vai além dos seus órgãos genitais e transcende a limitação e submissão que lhes foi atribuída,trazendo para aquilo que é o meu corpus e objeto de análise, mulher ,em Enviesada Rosa,é usada como inspiração para critica social,mostrar a insatisfação de como a mulher é usada em algumas culturas,não obstante, a obra ,num cômputo geral,tem a mulher como instrumento de satisfação sexual.Vejamos alguns extratos retirados da obra:

No texto «MULHER IBINDA» , página 19, a mulher é usada como expressão de uma cultura,especificamente,a cultura ibinda. Podemos observar, em todo poema, um certo entoar de endeusamento à mulher ibinda, conterrâneas do autor :

Miss Cabinda
mwana Cabinda
infinita deusa com rosto de flor
segredo do Mayombe(…)

Banhas-te no Mbanda
e renasces deusa
porque és única
na imensa Angola

Uma cultura marcada por vários ritos. Um dele é o Tchikumbi é um ritual de iniciação ,de Cabinda,em que a menina é levada para uma casa (casa de tintas) para ser orientada a ser mulher.

Construída na casa de tintas
(tchikumbi)
ornada de natureza

Este poema é mais do que uma simples exaltação da mulher-mulher. É também um canto a mulher-terra e dos aspectos culturais que nela ocorrem. Exemplo disso seriam os bakamas, elementos da espiritualidade cabindense, homens espirituais

que se revestem de um tecido de palha , que aparecem em actividades culturais e representam a cultura ibinda

Vai ó mulher Ibinda
de Belize a Ntandunzizi
sobe as líricas montanhas do Jika
desfiando kintuene e
varrerão os Bakamas
homens de palhas
os espíritos contrários

No texto «Orgia», página 20,o autor apresenta a mulher mukubal como alguém que se oferece para ter sexo ,objetiva e sexualiza uma entidade cultural, que guardam os últimos vestígios da nossa ancestralidade africana,mas que na sua concepção moderna,o autor, ao ver os seios fora, pensa exclusivamente em sexo.Coloca de lado a questão cultural ,que não é um olhar sexual aos seios fora,mas a normalidade e identidade cultural especificamente para aquele povo da região do sul de Angola:

Atmosfera de rítimos africanos
nos céus das minhas cabeças
Egípcias e mukubais
ornadas de missangas
desérticas mulheres
mostrando seios
Evento à parte
nas costas da paradisíaca flresta
o vai e vem de Gazela oferecida
e o furtivo olhar de caçador estagiário

No texto «INTE(R)RUPÇÃO», página 22 ,o autor endeusa ou mitifica a mulher,mas olha simplesmente para ela como símbolo de satisfação sexual.Mais uma vez podemos comprovar a limitação a que as mulheres são impostas e a percepção de que depois da cama,depois do prazer,as mulheres não representam nada para os homens.

 Quadrupla bebendo infinito

aquoso espelho kianda

Serpentina mão

  afastando desejos leoninos

O texto 23, o texto central da antologia,rosa de fogo representa o poder da mulher ,mas é um poder que só representa o poder que está entre as pernas da mulher.Cá o autor usa a feminilidade ,o órgão genital feminino como símbolo de poder , quando já podemos observar mulheres a representarem altos cargos, como de lideres de

países, e a fazerem parte do executivo em vários sectores,o que ,não está ligado simplesmente ao libido. O poder feminino é REAL E EXTENSIVO.

Não acredito
Um elefante ajoelhado
ante o poderio
da saia kissonde

ou um leão derrotado
pelo fogo da rosa

Lendo os excertos acima, consegue-se observar também uma crítica social, sobre os homens que, socialmente, representam cargos de alto valor e que são rudes com os seus liderados, mas, que, perante as mulheres, quer seja essa a mãe ou a esposa, não tem poder nenhum, e,que,indubitavelmente as mulheres são maiores que os homens, algo que também encontramos no poema «NÃO ÉS DAQUI».

Em teus beijos descansam forças sobrenaturais
todo o herói é cobarde
ante o fogo que trazes entre as pernas
todo o homem é criança a embalar em teus braços
bem se pode dizer não és daqui
p.41

No poema «TALVEZ ORGIA», página 51, o poeta tece críticas a certas culturas ancestrais onde a mulher é instrumentalizada sexualmente, usada como um objecto que pode ser emprestado ao vizinho, ao amigo, ao vizitante. No poema, o sujeito poético sugere uma troca de parceira(gazela por zebra), permuta institucionalizada pela cultura. O poeta procura demonstrar o perigo dessa prática cultural que objectifica a mulher:

Otchiepo
dá-me tua gazela
eu te dou minha zebra
Otchiepo
comerei tua gazela
comerás minha zebra
comeremos no mesmo prato
com caras de pau
nossas mulheres nossa tradição
nossa singular forma de ver
Otchiepo
ontem foi tua minha zebra!
Otchiepo
ontem foi minha tua gazela!
hoje é minha minha zebra…
hoje é tua tua gazela…
e amanhã?
«TALVEZ ORGIA»

Conclusão

Em suma, a mulher em Enviesada Rosa, talvez por ser um livro erótico, será sempre apresentada no quadro da sexualidade. Quando simboliza poder, será através do que tem nas pernas e não pelo que vale, ou seja, a obra em si é preenchida por uma semântica libidinosa, não obstante, é de louvar a forma criativa e ousada com que o autor se refugia ao erotismo para retratar as várias situações associadas a mulher.

Referências Bibliográficas

FERNANDES, Fátima Sampaio. (2021 , dez.). A mulher na poesia de Agostinho Neto. Revista Internacional de Culturas, Línguas Africanas e Brasileiras. São Francisco do Conde (BA), 1 (Especial): 78-92;

PADILHA, Laura Cavalcante. Paula Tavares e a semeadura das palavras. In: CAMPOS, Maria do Carmo Sepúlveda, SALGADO, Maria Teresa. (Org.). África & Brasil: Letrasem laços. São Paulo: Atlântica, 2000, p.287-302

PEREIRA, Érica Antunes (2009). Secreta encruzilhada: duas vozes femininas que (se) (trans)formam (n)a poesia angolana. SCRIPTA, Belo Horizonte, v. 13, n. 25, p. 127-144 SIMBAD, Hélder (2017), Enviesada Rosa, INIC:Luanda;

ROSSINI, Tayza Cristina Nogueira. A CONSTRUÇÃO DO FEMININO NA LITERATURA: REPRESENTANDO A DIFERENÇA ;

Fresta, Luísa. (2018). Enviesada Rosa – Hélder Simbad. Disponível em https://artesecontextos.pt/2018/07/enviesada-rosa-poesia-de-helder-simbad/

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